O Governo do Distrito Federal celebrou, na última quinta-feira (26), a contratação da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) – entidade de apoio à UnB – para realizar a consultoria do antigo Lixão da Estrutural. Trata-se do primeiro passo para recuperação da área, cujo objetivo é elaborar um diagnóstico de contaminação e proposta de remediação ambiental. O prazo de execução é de 12 meses, com orçamento de R$ 1,3 milhões.
Após o fechamento do aterro, em janeiro de 2018, a preocupação agora é analisar a contaminação e as ameaças deixadas pelo antigo lixão. Segundo José Eloi Campos, coordenador técnico do projeto e chefe do Instituto de Geociência da Universidade de Brasília (UnB), o principal desafio é localizar a pluma do chorume – líquido escuro que sai do lixo -, uma vez que pode alcançar a água que é consumida pela população.
“Mesmo sem depositar mais lixo, a chuva infiltra na região e dilui o chorume, que por sua vez segue migrando. O que ainda não tem resposta é: onde que essa pluma chegou? Sabemos que ela se direciona para o interior do Parque Nacional e também para a cabeceira do córrego Vicente Pires, que é local de captação de água pela Caesb. Então tratar o chorume e evitar essas rotas são os pontos mais importantes no momento”, explicou Campos.
De acordo com o coordenador, os estudos terão dois enfoques principais: o diagnóstico e os testes-pilotos para a apresentação de propostas ao GDF, ou seja, acerca do uso de tecnologias adequadas para o efetivo controle de um dos maiores problemas ambientais da região. “Tratar chorume é a coisa mais simples do mundo, no entanto, é um processo caro. Então vamos buscar rotas alternativas, eficientes e que sejam mais baratas”, comentou.
Dentre as propostas iniciais está a construção de vários poços de até 80 metros de profundidade para bombear o chorume e monitorar os reservatórios de água subterrâneos. Para reter os metais presentes no solo, pretende-se adotar a técnica da fitorremediação com plantio de árvores nativas como agentes purificadores, bem como realizar processos físico-químicos para precipitar os metais, de modo a serem tratados como minerais estáveis.
Maior depósito de lixo da América Latina
Por quase 60 anos o Lixão da Estrutural foi responsável por receber todo o resíduo sólido do Distrito Federal. De acordo com o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), estima-se que 40 milhões de toneladas de lixo já foram despejados no local. Com 200 hectares de área e montanhas de lixo de mais de 50 metros, o depósito era considerado o maior da América Latina.
A apenas 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes e dividindo cerca com o Parque Nacional de Brasília, o Lixão da Estrutural é considerado uma irregularidade pela Lei de Crimes Ambientais e pela Política Nacional do Meio Ambiente. Felizmente o local foi desativado no dia 20 de janeiro de 2018, quando o Aterro Sanitário de Brasília, em Samambaia, estava pronto para uso.
O chefe do Instituto de Geociência da UnB alertou que a proximidade entre o depósito de lixo e a área de conservação ambiental é um risco para fauna, flora e água que abastece a população do DF. “Assim que acaba a vida útil de um aterro, é preciso que ele seja fechado o quanto antes. É como uma mineradora: quando há a exaustão das minas tem que sair e tirar tudo de lá, caso contrário pode até causar um acidente. Ou seja, a ideia é conseguir minimizar os efeitos negativos logo”, elucidou Campos.
No caso do Lixão da Estrutural, mesmo com as atividades finalizadas há quase dois anos, o local gera preocupação, visto que concentra enorme quantidade de chorume e gás metano no solo, além de possuir grandes volumes de lixo enterrados em decomposição. Ademais de contaminar reservas subterrâneas de água, há também perigo de explosões no local. “Por meio dos estudos, esperamos minimizar os efeitos causados pelo depósito e tratar a área”, ponderou o coordenador.
Recuperação do solo
Os resultados obtidos durante os 12 meses de estudo servirão de subsídio para o Projeto de Recuperação da Área Degradada (Prad), realizado pelo Instituto Brasília Ambiental – IBRAM. O objetivo é a recuperação do solo do antigo lixão, além de evitar o impacto negativo sobre os recursos hídricos e a contaminação dos mananciais que fazem parte da bacia hidrográfica do Paranoá.
Vale ressaltar que a execução do projeto será viabilizada por recursos provindos da cooperação técnica entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Governo do Distrito Federal (representado pela Sema) e o Projeto CITinova – Promovendo Cidades Sustentáveis no Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI).
Para o presidente da Finatec, Armando Pires, a fundação de apoio presta uma assistência fundamental na solução de problemas sociais. “É um honra e uma satisfação ter nossa equipe envolvida nesse estudo, em área na qual já temos grande conhecimento acumulado. Agora é hora de fazê-lo voltar à sociedade, o que é possível por meio da canalização de recursos”, declarou.
O evento de lançamento dos estudos e divulgação do contrato contou também com a presença do subsecretário de Gestão das Águas e Resíduos Sólidos, Jair Vieira Tannus Júnior, e a subsecretária da Secretaria de Meio Ambiente – SEMA, Alessandra Andreazzi Peres, ambos da SEMA. Participaram igualmente a diretora do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Regina Silvério, o subsecretário de Estruturação e Gestão de Projetos da Secretaria de Projetos Especiais do GDF, Eduardo Amaral da Silveira, e a coordenadora do Projeto CITinova no GDF, Nazaré Soares. O Diretor-adjunto da SLU, Gustavo Souto Maior, e a Chefe do Parque Nacional de Brasília, Juliana de Barros também marcaram presença e elogiaram a iniciativa.
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