Em vez de um paciente por vez, professores pretendem fazer com que essas máquinas possam atender até dois pacientes ao mesmo tempo. Trabalho será útil não só para atendimento a pessoas com Covid, mas também em outros casos também graves
Um dos sintomas mais preocupantes em pessoas infectadas com a Covid-19 é a falta de ar devido ao comprometimento dos pulmões em casos mais graves. A busca por respiradores artificiais nos meses em que a pandemia recrudesceu no mundo fez com que o sistema público de saúde beirasse ao colapso no País.
Então, um grupo de professores da Universidade de Brasília resolveu desenvolver um projeto que estuda a viabilidade de compartilhamento desses equipamentos também chamados de ventiladores mecânicos por até dois pacientes ao mesmo tempo.
“Em virtude desse cenário terrível, surgiram possibilidades. Uma delas era duplicar a capacidade de ventilação, não só do aparelho em si, mas do circuito de ventilação. Aumentaria a capacidade de um único aparelho, podendo atender dois indivíduos”, disse o professor Marcelino de Andrade, docente da Engenharia Eletrônica na UnB Gama e coordenador da pesquisa, em entrevista para a revista Finatec Projetar.
A inspiração para um passo tão audacioso em direção à tecnologia veio justamente da guerra. Conforme explica o professor José Felício, da Faculdade de Engenharia da UnB no Gama, que integra a equipe de Marcelino. “No passado, esse projeto surgiu, no período de guerras e catástrofes, da necessidade de você não dispor de equipamentos suficientes para atender pacientes individualmente. Então, a ideia de se fazer um mecanismo que pudesse atender a mais de um paciente ao mesmo tempo surgiu nesses exemplos do passado”, explicou Felício.
Conectar duas pessoas no mesmo respirador, no entanto, não é uma tarefa tão simples quanto pode parecer. O equipamento se adequa à necessidade e condições do paciente, e pode ser usado em pessoas com diferentes graus de deficiência respiratória: os ventiladores usados hoje detectam como o paciente está e vão se ajustando. Se ligado a duas pessoas, uma vai ser o paciente ‘piloto’ e o outro, o ‘passageiro’. Ou seja, o equipamento vai fazer o que o ‘piloto’ precisar.
A pesquisa busca, a princípio, entender se um respirador com circuito duplo é possível e seguro, na tentativa de criar um modelo viável. Para isso, a equipe conta não só com engenheiros, como o professor Marcelino e o professor José Felício da Silva, mas também com o professor Sérgio Mateus, da Fisioterapia da UnB Ceilândia. “A ideia é a gente ter nestes respiradores válvulas controladoras para gerar ar para cada paciente. Então, apesar de uma ventilador estar gerando um volume, através de uma pressão, de um fluxo, a gente conseguiria otimizar as pressões que nós acharíamos por bem para cada paciente. Então, apesar de o ventilador ser múltiplo, o desafio é conseguir individualizar na ponta essa pressão ”, detalha Sérgio, que é professor-ajunto do campus de Ceilândia.
Infecção cruzada
Com a ajuda de filtros especiais, os pesquisadores afirmam que conseguem controlar a infecção cruzada. Ou seja, passar um vírus de um paciente para o outro no caso de ambos estarem utilizando o mesmo respirador. “A nossa intenção é começar a fazer os primeiros testes in vitro (fora do organismo vivo, em tubo de ensaio). E somente depois começar a realiza-los em pacientes. Mas isso deve levar ainda algum tempo”, emenda o professor Felício.
Finatec
Para Sérgio, a Finatec teve uma participação importante porque intermediou a parceria entre a FAP-DF com o grupo de professores incumbidos pela pesquisa. “Tem um ponto que os pesquisadores acabam sofrendo muito que é o da gestão prestação de contas. Porque perde-se muito tempo com relatórios. Então, a Finatec se encarregando disso ajudou demais”, salienta o docente.