A iniciativa também realiza um cursinho pré-vestibular destinado a estudantes da rede pública de ensino do Recanto das Emas
Do trabalho manual das 86 mulheres que participam do Projeto Tecendo o Amanhã surgiu uma ideia inusitada: revestir todo o prédio que as acolhe e ensina com peças de crochê. A ação é uma forma de exaltar as oportunidades que a iniciativa social proporcionou a essas pessoas, além de, é claro, exibir as habilidades aprendidas. “Até setembro nós vamos encapar até o rolo de papel higiênico com o bordado e a costura que fazemos aqui”, brincou Kátia Ferreira, coordenadora local do projeto.
Ativo desde março de 2019, o Tecendo o Amanhã é executado pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), por meio do Núcleo de Cultura, Diversidade e Minoria Políticas, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e gestão da Finatec. Com sede no Recanto das Emas – dentro do Instituto Proeza, no qual Katia é a gestora – o projeto visa capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade a partir de práticas empreendedoras, para que possam adquirir autonomia social e econômica. Estudantes de escolas públicas locais também são contemplados com a oportunidade de fazer um cursinho pré-vestibular gratuito.
“Trabalhamos com dois públicos-alvo principais: mulheres e jovens em situação vulnerável. Tentamos abrir portas para pessoas que a vida lhes negou uma oportunidade através da geração de renda e da aprovação no vestibular. Com essas ações, esperamos poder contribuir para a autonomia, mobilidade social e perspectiva de futuro dos participantes do projeto”, comentou Kátia.
Vale ressaltar que também são parceiros da iniciativa: UNESCO, Criança Esperança, TV Globo e Fundação Banco do Brasil. “Em 2020 fechamos mais uma parceria com o Ministério da Justiça, além de contar com contribuições pontuais do Ministério Público do Recanto das Emas”, enumerou.
Capacitação
Uma das frentes – que deu nome ao projeto – baseia-se em cursos profissionalizantes de costura, crochê e bordado, com 40 e 50 vagas, respectivamente. Com o sucesso das aulas, o crescente interesse por uma qualificação e a alta taxa de empregabilidade, outras capacitações foram acrescidas, como de tingimento orgânico, com 15 vagas, e panificação, com 20 vagas. “Conseguimos, inclusive, empregar 100% dos alunos do curso de panificação”, comemorou Kátia.
Para exibir o trabalho pessoal de cada um dos participantes, o Tecendo o Amanhã realizou quatro exposições de vendas de produtos em 2019. Também foi realizada uma mostra de 60 autorretratos bordados pelo grupo na sede do Ministério Público do Destrito Federal e Territórios (MPDFT). Trata-se do resultado das primeiras atividades de autoconhecimento e de se olhar no espelho propostas pelo projeto.
Além de qualificar as participantes, as aulas também ajudam no olhar para si e para o próximo. “Muitas dessas mulheres já não possuíam uma rede de relacionamento, mas ao integrarem o Tecendo o Amanhã, ganham uma comunidade de apoio”, explicou a coordenadora local. De fato, o espaço serve como uma casa acolhedora, pois intercalado aos cursos, há também rodas de conversa para promover a empatia. Mais ainda, para mães com filhos dependentes, o espaço proporciona acolhimento com atividades interativas.
“Sabemos que muitas mulheres desejam fazer um curso de capacitação, mas não o fazem por uma barreira comum: não ter com quem deixar os filhos ou netos. Nossa proposta é cuidar das crianças para que as mães cuidem de aprender e fazer o seu artesanato”, disse Kátia. E completou: “Nós servimos um lanche no turno da manhã e da tarde para as famílias e depois, enquanto as mães aprendem, as crianças passam o tempo realizando aulas de balé, jiu jitsu, inglês, filosofia e matemática. Ninguém fica parado!”.
Pré-vestibular
Outra frente da iniciativa é voltada para estudantes de baixa renda de escolas públicas localizadas no Recanto das Emas. Jovens que frequentam o terceiro ano do ensino médio poderão contar com o auxílio de um cursinho pré-vestibular. O objetivo é ampliar as chances de ingresso em universidades federais.
São 112 vagas para estudar as matérias mais relevantes do Enem e dos principais vestibulares do país. As aulas são ministradas por professores pagos com recursos do Criança Esperança e por alunos de doutorado da UnB, bolsistas do projeto Tecendo o Amanhã.
Para participar, basta realizar o processo seletivo. No entanto, as regras para ingressar vão além do desempenho na avaliação. “Para que fosse mais inclusivo não selecionamos os alunos por critério de nota, mas de vulnerabilidade, o que nos traz um aluno mais desafiador, dados os amplos problemas sociais que os permeiam”, discorreu a coordenadora.
Para evitar a evasão do cursinho, o aluno não pode exceder mais de três faltas consecutivas sem justificativa. Entendemos que a constância no estudo é essencial para aumentar as chances de aprovação. Dos inscritos no cursinho, 38% conseguem ingressar na universidade federal. Neste semestre de 112, desistiram 48 alunos e 24 ingressaram na universidade (38%), 9 são bolsistas integrais em universidades privadas, ou seja 33 alunos que ingressaram no curso superior.
Apesar da evasão, vale ressaltar que a meta de atendimento ainda está acima da prevista no projeto. Os inúmeros resultados positivos colocam o cronograma à frente do planejado, cuja data de finalização está prevista para junho de 2020.