Enem Inclusivo e Especial: projeto reúne alunos especiais em aulão preparatório para prova

Os aulões ocorrem na sede da Finatec e visam minimizar as desigualdades entre os estudantes com o auxílio de professores voluntários

Na véspera do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), estudantes da educação inclusiva da rede pública do DF se reuniram no auditório da Finatec para realizar o último aulão do projeto “Enem inclusivo e Especial”, iniciativa inédita da Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral (Subin), que contou com oito encontros na modalidade pré-vestibular. Vale frisar que a Finatec é parceira da iniciativa e ofereceu o espaço para realizar todas as atividades durante esse período.

As gargalhadas relaxadas dos participantes do último dia até fizeram parecer que eles estavam em um show de comédia. Em uma aula lúdica, interativa e muito divertida, professores voluntários prepararam os alunos para os detalhes finais da prova. “Evite problemas previsíveis, por exemplo, comer muito e ter dor de barriga na hora da avaliação. Mas se um meteoro cair do lado de fora a culpa não será sua, até eu vou querer sair para ver”, brincou o professor Kléber Carvalho, do Centro Educacional (CED) 06 de Ceilândia, mais conhecido como Kléber Caverna.

Inclusão social

O projeto conta com a participação de estudantes com diversas particularidades: síndrome de down, deficiência intelectual, física, visual, auditiva e ainda com espectro autista. Para abraçar a todos, criou-se um material pedagógico acessível e direcionado, além de auxiliar as famílias nas inscrições e oferecer todo o suporte necessário.

“O Enem inclusivo e Especial oferece uma série de possibilidades pedagógicas, de modo a oferecer aos nossos estudantes especiais as mesmas oportunidades de aprendizado que os demais alunos possuem. É dar a voz a esses jovens e mostrar o quanto são competentes e valiosos no mercado”, explicou Vera Barros, Subsecretária da Subin.

No intuito de garantir empregabilidade a jovens com necessidades especiais e com transtornos de aprendizagem, o projeto piloto foi um sucesso e deve ser ampliado no próximo ano para todas as escolas da rede de ensino do DF. “É um trabalho que cria uma rede de solidariedade num projeto de educação inclusiva”, comentou o professor voluntário Raul Dusi.

Protegendo Sonhos

Os aulões também são responsáveis por motivar os estudantes a alcançarem os objetivos pessoais e profissionais e, mesmo com as dificuldades, jamais desistirem dos sonhos. Em relação ao Enem, a mensagem é: “se eu vou fazer a prova, tenho que pensar positivo. Antes de eu fazer o vestibular, já fui com o cabelo raspado. Quando me perguntaram o porquê disso, eu disse que já sabia da minha aprovação, então só adiantei os processos”, incentivou o professor Kléber Caverna, em alusão a tradição de raspar o cabelo após ingressar no ensino superior.

A estudante Luana Vale sofre de paralisia cerebral, mas não deixa o transtorno ser um empecilho na realização de suas metas. “Quero cursar publicidade e o aulão está me ajudando para realizar o Enem, vou me lembrar de todas as dicas que aprendi aqui durante a prova”, e acrescentou: “O projeto está me esclarecendo muitas dúvidas em relação ao conteúdo. Se eu não tivesse essas aulas, não teria base suficiente para fazer a prova”.

A estudante Luana Vale sofre de paralisia cerebral, mas não deixa o transtorno ser um empecilho na realização de suas metas. “Quero cursar publicidade e o aulão está me ajudando para realizar o Enem, vou me lembrar de todas as dicas que aprendi aqui durante a prova”, e acrescentou: “O projeto está me esclarecendo muitas dúvidas em relação ao conteúdo. Se eu não tivesse essas aulas, não teria base suficiente para fazer a prova”.

Para Luis Felipe Sales não é diferente, o estudante autista ama estar em frente às câmeras, inclusive já atua como youtuber. “Eu gosto de falar para o público, fazer reportagem e dar entrevista. Me sinto muito ansioso para realizar o Enem, é um sonho entrar na faculdade”, aspirou. A profissão que almeja seguir? “Jornalismo, sem dúvida”, respondeu o estudante.

UnBeatables: apoiado pela Finatec, equipe de futebol de robôs da UnB possui três títulos mundiais

Em 2014, uma equipe formada por estudantes e professores dos cursos de engenharia mecatrônica e engenharia eletrônica da UnB (Universidade de Brasília) teve a oportunidade de participar da RoboCup 2014, em João Pessoa (PB). O torneio, que ocorre anualmente em diversos paises do mundo, reúne robôs humanoides, desenvolvidos e programados por estudantes e pesquisadores, que competem numa simulação de um jogo de futebol. Desse interesse pela tecnologia e suas diversas possibilidades, nasceu o UnBeatables, que hoje já soma três títulos mundiais de copa do mundo de futebol de robôs e diversos prêmios de robótica.

O UnBeatables, filiado ao LARA (Laboratório de Automação e Robótica) da UnB e apoiado pela Finatec – Fundação de Apoio para Pesquisa, Ensino, Extensão e Desenvolvimento Institucional teve a oportunidade de participar da competição Humanoide Robots Soccer em 2014. A partir desse momento, a equipe percebeu a potencialidade e a possibilidade de desenvolver um projeto tecnológico e pedagógico. Dessa forma, hoje,  os estudantes utilizam a programação robótica para fazer os robôs interagirem com crianças e adolescentes em hospitais e escolas públicas do DF.

Sob o comando da Dra. Professora Mariana Bernardes, do departamento de engenharia eletrônica da UnB, há seis anos, a UnBeatables vem participando de diversos torneios e competições nacionais e internacionais, tendo conquistado os títulos das RoboCups na categoria Drop-in no Brasil em 2014, RoboCup – Hefei China, em 2015, RoboCup – Leipzig Alemanha, em 2016, além do primeiro lugar na Larc (Competição Latino Americano de Robótica) em São Carlos (SP/2014), na Larc Uberlândia (MG), em 2015, na Liga Humanóide de Futebol RoboCup / Standard Platform League (SPL), no Recife, em 2016 e o segundo lugar na Larc Curitiba em 2017.

Desafios

Ano passado a equipe teve de se adaptar à algumas mudanças para participar dos campeonatos, como explica a professora Mariana. Até então o grupo dispunha apenas de dois robôs que competiam em uma única categoria que exigia apenas um jogador em campo. Com as novas regras, a categoria foi extinta e para participar, teria que ser com um time completo de jogadores. Infelizmente, por essa nova condição, a equipe não conseguiu marcar presença em 2018. Com o apoio de instiuições de pesquisa e inovação, a UnBeatables conseguiu adquirir mais três robôs no início desse ano e agora se preparam para o mundial 2019, que irá ocorrer na Austrália e para a Larc 2019, que acontecerá no Rio Grande do Sul, como destaca a coordenadora. “Na competição em grupo é necessário no mínimo quatro robôs, então corremos atrás e conseguimos comprar três novos. Já estamos tentando dar um up nos outros dois mais antigos, dessa forma poderemos nos restabelecer e competir no estilo completo. A dificuldade é maior, já que com o time completo a gente compete contra equipes com 30, 40 robôs, mas estamos confiantes”, ressalta a professora.

Eric do Vale, aluno de Engenharia Mecatrônica da UnB, que também faz parte da UnBeatables, explica que durante as competições, os robôs são avaliados sob diferentes critérios. A performance, por exemplo, deve mostrar aos jurados e expectadores que os humanoides possuem capacidade de interação e autonomia em tarefas que seriam realizadas num jogo de futebol. “Na competição funciona como num jogo de futebol mesmo, eles têm que fazer tudo de forma autônoma, a gente coloca ele dentro do campo, ou seja, precisam procurar a bola sozinho, encontrar o gol correto, encontrar os adversários, companheiros de equipe, responder ao juiz, tudo isso de forma autônoma e dinâmica”, explica o aluno de mecatrônica do oitavo período.

A coordenadora da equipe relata alguns desafios que a UnBeatables ainda enfrenta para manter o grupo nas competições, entre eles, a manutenção dos robôs e a renovação da garantia dos modelos. “Na nossa categoria é obrigado a competir com esses modelos de robôs comerciais, ninguém pode tentar trocar hardware, trocar câmera, trocar nada durante as provas, tudo isso para tentar estar num nível de igualdade entre todas as equipes. No entanto, há versões comerciais que vão evoluindo, mais avançadas, com configurações e funcionalidades tecnológicas muito abrangentes. Então as vezes é complicado para nossa equipe, que possui cinco robôs, acompanhar essa evolução se não houver apoio”, explica a professora Mariana Bernardes.

Projeto além dos campos de futebol

Ao perceber a capacidade de interação dos robôs, a UnBeatables, decidiu integrar os humanoides a outros projetos além das competições. Os estudantes perceberam que os robôs poderiam ser usados para incentivar o interesse de crianças e adolescentes em robótica. Hoje, a equipe já levou os humanoides a diversas escolas públicas do DF, além de hospitais, onde crianças e adolescentes, e até adultos, puderam interagir com os pequenos robôs. Uma dessas atividades, com a presença dos humanoides, foi a participação na Orquestra Sinfonia Diferente, onde os robôs interagiram com crianças autistas.

Antes, programados apenas para jogar bola, agora os pequenos robôs dançam, praticam lutas, possuem habilidades sociais e conversam em inglês e português com o público, como relata Bernardes. “A gente teve um contato com um pessoal que trabalha com autistas e um dos nossos robôs participou da apresentação desse grupo, ele foi o hostess do evento e as crianças ficaram super animadas. Engraçado que elas não conversavam e nem olhavam pra gente, mas conversavam de forma normal com o robô. Ele é interativo, responde conforme a gente programa, tem uma parte de reconhecimento e sintetizador de voz, então ele também responde”, finaliza a coordenadora.

A coordenadora do projeto, Professora Mariana Bernardes (FGA – UnB – Engenharia Eletrônica) ao centro com toda a equipe e o Superintendente da Finatec Gustavo Condeixa. Ao fundo o professor Roberto Baptista (FGA- UnB – Engenharia Eletrônica), e os alunos Eric do Vale, Lívia Fonseca e Natália Borges da Engenharia Mecatrônica.

Apuama Racing: equipe de fórmula e combustão da UnB apoiada pela Finatec

Em execução desde 2006, o Apuama Racing surgiu a partir do interesse de um grupo de estudantes de engenharia e professores da Universidade de Brasília (UnB), que juntos propuseram a construção de um carro, modelo kart, para participar de competições. Treze anos depois, o Apuama Racing segue firme e hoje é formado por um grupo de 55 estudantes de diversos cursos de graduação da UnB. Juntos, competem anualmente contra outras universidades brasileiras na SAE, a Sociedade de Engenheiros Automotivos (Society of Automotive Engineers).

Para competir na SAE, a equipe de combustão da UnB precisou desenvolver um protótipo de carro de corrida nas categorias combustão ou elétrico, com estilo parecido dos carros de Fórmula 1, conhecido como open wheel. Assim, cada equipe universitária precisa apresentar todos os elementos utilizados na construção, projeção e funcionamento do modelo. Também são exigidas projeções de estudo de mercado para a produção em larga escala do protótipo.

Durante a competição, promovida pela Sociedade de Engenheiros Automotivos, os estudantes participam de diversas provas, entre elas a estática, onde há a apresentação de como o modelo foi projetado e construído, porquê foi projetado e qual o diferencial do protótipo. O carro também é colocado à prova, e a equipe participa de corridas e circuitos nos quais são avaliados aspectos como resistência, aceleração e potência.

Na UnB, o Apuama é coordenado pelo doutor em engenharia mecânica Sanderson Macedo Barbalho, que também é professor adjunto do departamento de Engenharia de Produção da Universidade. De acordo com Barbalho, um dos principais diferenciais do projeto Apuama é o fato de haver integração entre diferentes áreas de pesquisa concentradas no mesmo objetivo: a execução do modelo.

O especialista explica que começou a coordenar o projeto a partir de 2013, ano em que havia apenas seis estudantes participantes. Como o fluxo de trabalho era enorme e os recursos escassos, Barbalho precisou correr atrás de apoiadores e enxergou a necessidade de incluir estudantes de outras áreas da UnB, que pudessem contribuir de diferentes maneiras com a execução do protótipo, e que dessem fôlego ao projeto.

“Pelo perfil do projeto, a gente estendeu a participação para outras áreas da UnB. Hoje fazem parte estudantes de administração, comunicação social e de todas as engenharias. Os participantes enxergam a importância de haver essa integração, essa interdisciplinaridade entre os cursos, algo que ainda precisa melhorar muito na UnB e em outras universidades também”, explica o coordenador.

O gestor aponta dois grandes desafios para a execução eficiente do projeto: a necessidade de disciplinas mais práticas que envolvam iniciativas tecnológicas e inovadoras e a busca por um processo de gestão do conhecimento mais eficiente e multidisciplinar. Ele também destaca a importância de haver apoio financeiro e de gestão como o que tem sido oferecido pela UnB e pela Finatec (Fundação de Apoio para Pesquisa, Ensino, Extensão e Desenvolvimento Institucional).

“Precisamos mudar a cultura da falta de prática do que é aprendido nas aulas. Tem que começar dentro dos próprios cursos. Temos ainda o problema da deficiência de gestão. O projeto é dentro da engenharia mecânica, mas tem professores e alunos que fazem parte e que são de outros cursos, então eu tenho que criar a cultura de que é um projeto multidisciplinar”, aponta Barbalho.

Referência nacional

Em 2017, o Apuama Racing Combustão UnB conseguiu ficar entre as dez melhores equipes do país, um resultado muito positivo, já que a maioria das equipes vencedoras sempre se concentrou nos estados da região sudeste. Em 2018, apesar dos resultados não terem sido os esperados, o Apuama manteve a participação na competição. Já para 2019, a equipe da UnB já está projetando um novo modelo de carro, o AF19, que substituirá o modelo atual e irá competir nacionalmente, em etapa que deve ser realizada em novembro.

Um grande diferencial do Apuama que o professor faz questão de destacar é a participação de várias estudantes mulheres no projeto. Segundo ele, em 2018, o capitão organizacional da equipe foi uma mulher. O professor explica que essa é uma das formas de quebrar barreiras e padrões machistas ainda presentes na academia, onde a mulher tem pouco espaço em áreas de exatas que culturalmente são controladas, em sua maioria, por homens.

Projeto muito além de um carro de corrida

O estudante de engenharia mecânica, Kalebe Filardi, atual capitão organizacional do Apuama Racing, explica que a importância desse projeto não está relacionada apenas ao funcionamento do carro construído pela equipe, mas também sobre uma forma de enxergar o conhecimento adquirido na universidade para além da academia. “Ele é especial porque foi construído por estudantes da graduação, a gente aplica o nosso conhecimento adquirido na teoria e o coloca em prática. Não é o que ele tem, mas sim o trabalho que tivemos para que ele funcionasse”, acredita o estudante.

Segundo Kalebe, todas as partes do protótipo foram construídas pelos alunos, desde a suspensão até o chassi e a engrenagem. Em sua opinião, não bastava apenas o funcionamento do modelo, era preciso mostrar às pessoas a importância de se desenvolver uma iniciativa que envolve estudo, planejamento e muita dedicação. Ele lembra o quão importante é a integração de estudantes de áreas diferentes de atuação. “A gente tinha que construir uma forma de divulgar o nosso trabalho, até para conseguirmos patrocínio, apoio, visibilidade. Nós abrimos o nosso leque, tanto para a parte de organização quanto de execução do projeto”, explica o capitão.

O estudante lembra ainda da importância que foi participar da Campus Party BSB, onde, num espaço reservado da UnB, a equipe expôs o Apuama Racing e recebeu dezenas de visitantes. “Desde 2017, quando começamos a participar da Campus, observamos que o público de Brasília está desenvolvendo um olhar mais crítico sobre a aplicação e importância da tecnologia. A percepção das pessoas em relação ao nosso projeto superou as expectativas, elas começaram a buscar informações sobre como o carro foi desenvolvido. Eles perguntam como podem ajudar, e outros dizem que possuem uma empresa, e que querem apoiar”, relata.

Sobre os planos para 2019 o estudante espera que, além do apoio da UnB e da Finatec, a equipe consiga chamar a atenção de outras instituições que queiram investir em projetos inovadores e que estimulem a pesquisa e desenvolvimento nas áreas de engenharia e tecnologia. “Este ano a gente está conseguindo um apoio muito grande da Finatec, da UnB, eles começaram a perceber na equipe um potencial profissional e de qualificação para outros estudantes de graduação que desejam atuar no mercado de trabalho”, finaliza o graduando.

 

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