Zika, Dengue e Chikungunya: abordagem multidisciplinar para desenvolvimento de soluções aplicáveis em saúde pública
ENTENDA O PROJETO
Mais de 50 pesquisadores e alunos da Universidade de Brasília (UnB) e de outras cinco instituições, em parceria com a Finatec e a FAP-DF, desenvolveram o projeto “Zika, Dengue e Chikungunya: abordagem multidisciplinar para desenvolvimento de soluções aplicáveis em saúde pública”, no intuito de gerar dados e tecnologias para controlar eficazmente as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A pesquisa, que é realizada desde 2016, já trouxe inúmeros benefícios para a população brasiliense, como o controle dos mosquitos em regiões do DF e a formulação de antígenos específicos.
“O vírus Zika é transmitido principalmente através da picada do Aedes aegypti infectado, que também é vetor de dengue e chikungunya. A febre da Zika pode causar microcefalia e uma doença autoimune, a síndrome de “Guillain-Barré”, além dos sintomas típicos causados por um flavivírus (família de vírus causadora de inúmeras doenças em humanos e animais). Estratégias eficientes de controle do Zika vírus são urgentemente necessárias para países (semi) tropicais como o Brasil”, explicou o coordenador do projeto, o Prof. Dr. Tatsuya Nagata, do Departamento de Biologia da UnB.
A partir da gravidade e os constantes surtos de doenças provocadas pelo vírus no país, bem como a demanda da sociedade por um controle do mosquito, o projeto surgiu para trazer soluções rápidas e aplicáveis na saúde pública. São quatro subprojetos desenvolvidos: controle do mosquito Aedes; evolução natural das infecções; evolução do genoma dos vírus transmitidos pelo mosquito; e nova abordagem de kit diagnóstico de febre Zika, Chikungunya e Dengue.
Controle do mosquito Aedes
Coordenado pelo Prof. Dr. Rodrigo Gurgel, o subprojeto visa monitorar a incidência de Aedes aegypti em áreas urbanas do DF – a pesquisa teve como foco a região de São Sebastião para desenvolver as atividades -, além de avaliar o impacto do controle com o inseticida pyriproxyfen (PPF) e, consequentemente, das taxas de infecção de mosquitos por arbovírus (vírus transmitidos por insetos).
Em apenas 18 meses de estudo, foi constatada a circulação dos vírus da Dengue, Zika e Chikungunya nos mosquitos analisados em São Sebastião. Felizmente, houve uma redução de 72,5% na densidade de Aedes aegypti na região, evidenciando o elevado nível de suscetibilidade ao PPF. Ademais, o subprojeto foi também capaz de desenvolver um larvicida em forma líquida, que é seguro para uso no controle de mosquitos e, inclusive, pode ser utilizado em água destinada ao consumo humano.
Evolução natural das infecções por Zika, Chikungunya e Dengue
Esta ramificação do projeto apresenta vários objetivos. Em geral, a pesquisa comandada pelo Prof. Dr. Wildo de Araújo se responsabilizou por trazer informações a respeito das consequências das infecções da Zika e da Dengue, principalmente em relação à ocorrência de doenças autoimunes e outros fatores de risco.
Em termos práticos, foi possível realizar uma análise descritiva de casos de arboviroses – doenças causadas por insetos – notificadas à Secretaria Estadual de Saúde do DF desde a entrada do Zika vírus na região. Outro resultado importante foi demonstrar, através de vigilância de base laborial, que o Hemocentro de Brasília evitou a transmissão de arbovírus através da doação de sangue, inclusive no período de pico da epidemia.
O subprojeto também analisou os casos da síndrome de Guillán-Barré (SGB), de modo a criar uma estimativa de custo da doença no Brasil. Outro ponto de destaque é a vigilância de base hospitalar para desfechos neurológicos graves relacionados à síndrome, detectando um aumento de casos no DF de modo que pelo menos um foi associado à infecção de vírus da dengue.
Evolução do genoma dos vírus Zika, Chikungunya e Dengue
O terceiro subprojeto da pesquisa caracteriza a diversidade genética dos vírus. Com a autorização do coordenador, o Prof. Dr. Bergmann Ribeiro, foram analisados 46 pacientes infectados com o Zika vírus. Da análise do material genético, 26 genomas virais foram sequenciados. Também foi possível sequenciar seis genomas do vírus Chikungunya, cujo resultado foi descrito em um periódico internacional.
Para potencializar a análise, analisou-se amostras de mosquitos de vários locais do Distrito Federal. Dessas, duas que tiveram detecção positiva para os vírus da Zika, Dengue e Chikungunya foram sequenciadas, permitindo a obtenção do genoma quase completo do Zika vírus.
Parte das sequências dos genomas e árvores filogenéticas foram depositadas em bancos de dados público, o que é valioso para montar estratégias de controle das doenças causadas por arbovírus.
Nova Abordagem de kit diagnóstico de febre Zika, Chikungunya e Dengue
O último subprojeto, desenvolvido pelo Prof. Dr. Tatsuya Nagata, proporciona uma melhor vida para o cidadão brasiliense, dado que esta etapa tem como objetivo desenvolver antígenos específicos para cada um dos vírus estudados na pesquisa.
“O antígeno servirá como ferramenta importante para desenvolver um kit diagnóstico sorológico diferencial para futuro uso em vacina de subunidades. Até o momento, foi possível produzir antígenos dos vírus Chikungunya, Dengue e Zika em quantidade satisfatória utilizando o sistema de baculovírus (agente biológico de controle de pragas), porém no sistema de planta o rendimento está aquém do desejado”, explicou o professor Nagata.
A pesquisa Zika, Dengue e Chikungunya: abordagem multidisciplinar para desenvolvimento de soluções aplicáveis em saúde pública já trouxe inúmeros benefícios à população do DF. Mediante a relevância do tema, a FAP-DF optou por estender o fomento à pesquisa, que estava previsto para acabar até 2020. O novo Termo de Outorga e Aceitação foi assinado em 3 de junho, permitindo a continuidade do projeto.
Coordenador: Tatsuya Nagata
Recurso: R$ 2.998.999,94
Envolvidos: Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal – FAPDF, Finatec, UnB
Vigência: 2016 a 2020