Casos de sucesso

Projeto de mapeamento e avaliação da qualidade dos corpos d´água do DF

ENTENDA O PROJETO

Após coletar amostras de água e de esgoto das 13 estações de tratamento (ETE) existentes no esgotamento sanitário do Distrito Federal (DF), um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), coordenado pelo professor Alex Leite, vem identificando desde agosto de 2017 a presença de microrganismos super-resistentes, conhecidas como superbactérias em algumas ETEs, entre elas, na Asa Sul, Brazlândia, Samambaia e Sobradinho. Em tese, estes organismos só deveriam ser encontrados em ambientes próximos ou de destino de lixo hospitalar, mas após os resultados das análises laboratoriais, foi verificada a presença das superbactérias também em ambientes comunitários.

Segundo explica Leite, Doutor em Biologia molecular, a presença dos microrganismos em ETEs próximas das áreas que concentram hospitais reforça o fato de que costumeiramente, o lixo hospitalar é descartado em áreas impróprias e inadequadas para receber esses dejetos. “Nosso laboratório ficou com a responsabilidade de fazer a avaliação da presença de bactérias multirresistentes em ambiente, em água e esgoto, e são bactérias que você espera encontrar apenas em ambiente hospitalar, é o que se espera, mas não é o que acontece”, explica Leite.

Dentro do projeto de mapeamento e avaliação da qualidade dos corpos d´água do DF, o grupo de pesquisa busca identificar a presença de superbactérias resistentes especificamente ao antibiótico carbapenem, utilizado exclusivamente em ambiente hospitalar. O antibiótico atinge vários grupos de bactérias, e é utilizado para combater infecções por bactérias. Ele possui grande importância médica, porém, a preocupação surge quando bactérias resistentes ao carbapenem são encontradas em ambientes comunitários.

A pesquisa utiliza a análise de espécies bacterianas específicas, como a Klebsiella pneumoniae, conhecida por causar infecções e pneumonias. Nos hospitais, essa bactéria é conhecida justamente por resistir aos efeitos do Carbapenem, e por essa razão, o grupo de pesquisa do projeto de mapeamento iniciou uma análise sobre a possível “fuga” dessa bactéria para ambientes comunitários por meio dos canais de esgoto. Os resultados mostraram que a bactéria está presente em algumas estações de esgoto, mas o que preocupa os pesquisadores é o fato da frequência desta bactéria ser maior em área de tratamento próximas a hospitais do DF.

Perigo químico fora dos hospitais
A coleta das amostras de esgoto e água é feita da seguinte forma: há a coleta de esgoto bruto, aquele que ainda não passou pela ETE, amostra de tratamento pós passagem pela estação e amostras de água no corpo aceptor do esgoto tratado. São colhidas duas amostras do esgoto tratado, uma a montante, que reflete o que ocorreria num ambiente natural não impactado pela atividade humana, e outra abaixo do derramamento de esgoto tratado, chamada de amostra jusante, que é aquela resultante das atividades humanas diárias. O resultado mostrou a presença de bactérias nas amostras jusantes, o que aponta a relação do envolvimento dessas bactérias em ambientes comuns, fora dos hospitais.

“Por incrível que pareça, a gente encontrou essas bactérias multirresistentes na maioria das estações de tratamento de esgoto, no esgoto bruto, no esgoto tratado e na amostra jusante de água. Elas não foram encontradas nas amostras a montante, acima do despejo. Isso é prova de que o ambiente natural frequentemente não comporta, não abriga esse tipo de microrganismo. Agora, eles circulam pelo esgoto bruto, sobrevivem ao tratamento e são despejados no corpo aceptor, e contaminam o ambiente por ação da estação de tratamento de esgoto”, explica o professor Leite.

Benefícios sociais muito além da saúde pública
O projeto de mapeamento e avaliação da qualidade da água no DF envolve pesquisadores da UnB e de instituições de Goiás e de Minas Gerais. A pesquisa tem o apoio da Finatec – Fundação de Apoio para Pesquisa, Ensino, Extensão e Desenvolvimento Institucional – e conta ainda com parceria com o Lacem (Laboratório Central de Saúde Pública), ligado à Secretaria de Saúde do DF. Leite aponta que a avaliação da qualidade da água no DF é feita no sentido de procurar riscos à saúde humana, em consonância com o mapeamento das áreas que potencialmente podem ter um risco maior de contaminação. Atualmente o projeto foi prorrogado por mais um ano, mas segundo o gestor, 70% da proposta já foi concluída.

Após chegarem a todos os resultados, o grupo de pesquisa pretende procurar os órgãos competentes, para que possíveis ações de controle a estas bactérias sejam iniciadas. Em relação a importância acadêmica da pesquisa, Leite evidencia que o projeto conseguiu financiar várias bolsas de mestrado e de iniciação científica, além de garantir insumos para pesquisas laboratoriais na UnB.

A mestranda Pâmela Maria de Oliveira, que faz parte do grupo de pesquisa, realiza a experimentação e análise de microbiológicos moleculares. Ela explica que no DF não há um projeto semelhante e da abrangência como o desenvolvido pelos pesquisadores. E por conta disso, não se sabe se há bactérias de importância clínica multirresistentes circulando no meio ambiente. “Acho que conhecimento é tudo, e a nossa pesquisa traz o conhecimento da presença ou não de certas bactérias de importância clínica no ambiente, e dependendo do resultado final, nosso resultado irá promover ações que poderão prevenir ou minimizar possíveis impactos na sociedade”, acredita a jovem pesquisadora.

Ela também lembra da importância de haver investimentos em área de pesquisa como essa, que podem subsidiar descobertas cientificas que tragam benefícios à sociedade. “O que eu vejo é que há investimento para alguns projetos, mas no geral falta muito para nos tornarmos um país que realmente valoriza o pesquisador e seu trabalho. E também vejo que o investimento para alguns programas tem diminuído com o passar o tempo, um exemplo é o próprio Programa de Iniciação Científica que tem diminuído a quantidade de bolsas no decorrer dos anos”, finaliza.

Coordenador: Alex Leite

Recurso: R$ 847.325,16

Envolvidos: Secretaria de Saúde do Distrito Federa, Laboratório Central de Saúde Pública (Lacem), Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), Finatec, UnB

Vigência: 2017 a 2020

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