Recursos hídricos: parceria entre UnB e Finatec propõe ações para o consumo responsável de água no país
Publicada em 15 de maio de 2019
A Agência Nacional de Águas (ANA) divulgou recentemente um estudo que mostra que cerca de 60 milhões de brasileiros correm o risco de sofrerem com a falta de água. O número foi calculado com base no ISH – Índice de Segurança Hídrica da ANA, que avalia a disponibilidade de oferta de água e a vulnerabilidade dos mananciais e fontes de abastecimento, entre outros critérios. O risco é preocupante, o que reforça a necessidade de políticas públicas que atuem em favor do cuidado e consumo consciente de água, recurso finito e imprescindível para a vida.
O projeto “Formulação e desenvolvimento de ações de extensão na área de recursos hídricos”, desenvolvido pela doutora em Sistemas Ambientais e de Recursos Hídricos e professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, Conceição de Maria de Albuquerque Alves, em parceria com a Finatec – Fundação de Apoio para Pesquisa, Ensino, Extensão e Desenvolvimento Institucional – é uma das iniciativas que tem contribuído de forma eficiente ao debate sobre a responsabilidade social em relação ao consumo de água.
Em meio a várias propostas, o projeto desenvolve atividades que trabalham temas relativos ao consumo e cuidado de recursos hídricos. A iniciativa nasceu após a realização do 8º Fórum Mundial da Água, realizado em Brasília, em março de 2018. Desde então, com o apoio da ANA, e da Finatec, a professora vem desenvolvendo ações educativas e de conscientização. O objetivo é disseminar no ambiente acadêmico da UnB debates, oficinas, seminários e até exposições artísticas cujo tema central seja Água além de contribuir com o processo de promoção e organização para o próximo 9º Fórum Mundial da Água, a ser realizado na cidade de Dakar no Senegal.
Segundo Alves, o projeto de extensão busca atingir não apenas a comunidade acadêmica da UnB, mas toda a sociedade. Desde março do ano passado, várias atividades foram desenvolvidas nesse sentido, sendo uma delas a série “Water Talks”: ciclo de debates e mesas redondas realizadas no Auditório da Faculdade de Tecnologia da UnB e que tiveram a participação de autoridades e órgãos dedicados ao tema como a ANA, Caesb – Companhia de Saneamento Ambiental do DF, a Adasa – Agência Reguladora de águas, Energia e Saneamento do DF – e a assessoria da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do DF.
De olho no Fórum Mundial da Água
O Fórum Mundial da Água, como o nome próprio diz, é o maior evento do planeta sobre o tema, e reúne líderes, ministros de estado e as mais importantes autoridades e especialistas no assunto. Para que cada país participe de forma efetiva, leve projetos e propostas de debate e consiga firmar acordos, é necessário que haja a participação de instituições, representantes dos governos e da sociedade civil, e ainda projetos que consigam articular as discussões acerca do tema. “O objetivo era justamente ter um projeto que, no âmbito da UnB, fomentasse a participação tanto da comunidade discente quanto docente, nos itens a serem desenvolvidos no Fórum. Foram várias atividades pré e pós Fórum, no sentido de disseminar, divulgar e deixar acesa a chama das reflexões acerca da temática da Água”, destaca a coordenadora do projeto.
Outra atividade desenvolvida com o apoio do projeto de extensão foi a realização da V Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente, uma iniciativa que recebeu o apoio do Ministério da Educação e Ministério do Meio Ambiente. A Conferência reuniu estudantes e representantes de escolas públicas de todo o país, que, em São Paulo, discutiram e promoveram diversas ações voltadas para o meio ambiente, e a água foi o tema da última edição, que ocorreu em abril do ano passado. Segundo Conceição Alves, “nesse evento houve apoio para as atividades de vídeo realizadas, registros e realização de oficinas, toda a parte de registro gráfico do evento e toda a relatoria foi desenvolvida pelo projeto. Contratamos pessoas para apoio, além da UnB TV, que também esteve conosco nessa parceria”, relembra a docente.
Cuidar do presente e do futuro
A professora Conceição Alves destaca o retorno social e econômico do projeto. Segundo ela, as atividades desenvolvidas dentro e fora do ambiente acadêmico disseminam a importância em relação ao futuro da água no Brasil e no mundo. Uma preocupação que deve ser de todas as pessoas, que devem olhar para o futuro e para as próximas gerações. “A gente ainda tem um caminho muito longo a percorrer em relação à conscientização do uso deste recurso. Estamos localizados numa região que não tem muito histórico de escassez de água. Não somos de uma região semiárida como alguns estados da região Nordeste onde a população já internalizou essa preocupação”, afirma a especialista.
Alves lembra ainda da importância de a universidade preparar profissionais e líderes que se preocupam com o futuro ambiental do país e que possam exercer dentro da sociedade um papel inovador e de mudança. “É com iniciativas como essa que a população se torna vigilante e consciente. A universidade gera conhecimento, traduzido em políticas públicas, e atitudes sociais responsáveis, mas ainda é preciso internalizar essa noção nas decisões da iniciativa privada e dos diversos setores da economia.
Segundo Osmar Coelho, estudante de doutorado e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, o consumo consciente e responsável de água é uma garantia de que as próximas gerações não sofrerão com a escassez. De acordo com Coelho, a preocupação em relação a este recurso surge na academia, mas precisa ultrapassar os limites da universidade. “O projeto tem sido extremamente bem sucedido em trazer as mais experientes vozes do campo da gestão e tecnologia hídrica. Para os estudantes, de todos os níveis, é de especial importância para a complementação e atualização dos conteúdos recebidos na educação formal em sala de aula”.
Na opinião do pesquisador, a água, por ser um recurso limitado, precisa ainda fazer parte da agenda de debates do governo em todos os níveis, além da necessidade de uma participação maior da sociedade. “Não é apenas o insumo primordial para a vida humana e biológica em geral, mas o input essencial de quase todos os processos produtivos. Podemos e devemos construir uma sociedade e uma economia descarbonizada que estabilize o nosso clima global, mas não podemos construir uma economia humana sem água. Podemos economizar, diminuir a pegada hídrica, mas não se abster da água, que cumpre inúmeros papeis em todos os processos humanos e ambientais”, finaliza o doutorando.