Professores e estudantes da UnB criam fungicida para combater ferrugem asiática da soja
Publicada em 3 de novembro de 2024
Projeto faz parte do Programa Antártico Brasileiro, que explora a biodiversidade única do continente gelado
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (IB/UnB) estão trabalhando no desenvolvimento de um fungicida inovador capaz de combater a ferrugem asiática, uma das principais pragas que afetam as lavouras de soja no Brasil e em várias outras partes do mundo. O trabalho é parte do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), um dos projetos científicos mais longevos do país, com mais de 40 anos de pesquisas contínuas.
A ferrugem asiática da soja, causada por um fungo, pode reduzir em até 50% a produtividade das lavouras, gerando enormes prejuízos econômicos ao setor agrícola. O novo fungicida, que está em desenvolvimento, é baseado em substâncias encontradas em fungos da Antártica e tem grande potencial para inibir o crescimento dessa praga. “Os fungos da Antártica têm propriedades que podem ser chave para reduzir as perdas financeiras na agricultura brasileira”, afirma o professor Paulo Câmara, coordenador da pesquisa na UnB.
O ProAntar é um esforço multidisciplinar, com a participação de universidades e institutos de todo o Brasil. Desde 2013, a UnB vem integrando essa equipe de pesquisadores que investigam o ecossistema único do continente antártico, explorando a rica biodiversidade local para encontrar soluções inovadoras para a agricultura, a medicina e outras áreas. Esta é a terceira vez que a UnB participa do programa, após ser selecionada por editais do CNPq, responsável pelo financiamento do projeto.
A pesquisa atual, que se estenderá até 2027, conta com o apoio financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), vinculada à UnB. A Finatec atua na gestão financeira e administrativa do projeto, enquanto a CAPES apoia os bolsistas envolvidos na pesquisa.
Antártica: um laboratório natural para o futuro
Paulo Câmara destaca que a Antártica possui um potencial biológico e mineral incomparável, com a capacidade de oferecer soluções para uma série de problemas globais. O continente ainda é pouco estudado, especialmente no que diz respeito à diversidade de fungos. “Atualmente, conhecemos apenas cerca de 100 mil espécies de fungos, mas estima-se que possam existir até cinco milhões de espécies no planeta. A Antártica, com seu ambiente extremo, pode abrigar microrganismos com capacidades únicas, ainda desconhecidas pela ciência”, explica o professor.
O estudo da vegetação e dos organismos que sobrevivem no clima rigoroso do continente antártico é uma das áreas centrais de pesquisa do ProAntar. A equipe da UnB, composta por professores, pesquisadores e estudantes, realiza coletas e análises durante as expedições, tanto a bordo de navios da Marinha do Brasil quanto na Estação Antártica Comandante Ferraz. A estação, que foi reconstruída recentemente, é agora a terceira maior e uma das mais modernas do mundo, especialmente em termos de infraestrutura laboratorial.
Impacto na agricultura e na ciência brasileira
A descoberta de novos insumos agrícolas, como esse fungicida, promete revolucionar a forma como o Brasil lida com a ferrugem asiática e outras pragas que afetam a produção de soja, uma das commodities mais importantes da economia nacional. A redução de até 50% das perdas na colheita poderá gerar ganhos significativos para os produtores e contribuir para a segurança alimentar global.
O projeto da UnB na Antártica não se limita à pesquisa agrícola. Ele também faz parte de um grande esforço de estudos sobre a biodiversidade, o clima, a geologia e a vida marinha na região, envolvendo temas como mudanças climáticas, conservação de espécies ameaçadas (como baleias e pinguins) e o monitoramento das geleiras.
A participação da UnB no ProAntar reforça o papel da universidade como um dos principais centros de pesquisa do Brasil, alinhada com os grandes desafios globais, como a sustentabilidade e a inovação tecnológica. Além de explorar a biodiversidade da Antártica, a equipe busca desenvolver soluções que possam ser aplicadas em diferentes áreas da ciência e tecnologia, melhorando a vida dos brasileiros e contribuindo para o avanço da pesquisa internacional.