Festival Recanto do Cinema 2024 bate recorde de inscrições e celebra diversidade no audiovisual periférico
Publicada em 30 de julho de 2025
Produzir e circular obras audiovisuais nas periferias brasileiras ainda é um desafio diante das desigualdades no acesso a recursos, formação técnica e espaços de exibição. Mas iniciativas como o Festival Recanto do Cinema – Audiovisual na Periferia mostram que é possível transformar esse cenário. Promovido pelo Instituto Federal de Brasília (IFB), Campus Recanto das Emas, o festival chegou à sua 4ª edição em novembro de 2024, consolidando-se como um importante espaço de formação, visibilidade e valorização do cinema feito nas bordas da cidade.
O evento bateu recorde de inscrições, com 609 curtas-metragens enviados de todas as regiões do Brasil. A iniciativa integra o projeto de extensão “Recanto do Cinema – Cultura Audiovisual na Periferia”, executado pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), sob a coordenação dos professores Allex Medrado, Juliane Peixoto, Juliana Lopes e Pedro Bailei.
Um dos destaques da edição foi a ampla diversidade entre os realizadores. Segundo o professor Allex Medrado, coordenador do projeto, o festival tem se afirmado como espaço de acolhimento e visibilidade para grupos historicamente sub-representados no audiovisual.

Dos filmes inscritos, 267 foram dirigidos por mulheres, 236 por pessoas LGBTQIA+, 185 por pessoas negras, 48 por pessoas trans e não-binárias, 23 por indígenas, 10 por pessoas amarelas e 18 por pessoas com deficiência. Além disso, 342 obras foram assinadas por cineastas estreantes, e 36,9% dos filmes foram produzidos por estudantes de cursos de audiovisual.
“Esses números não são apenas estatísticas”, afirma Medrado. “Eles representam trajetórias e a potência de uma produção periférica que resiste, se organiza e se fortalece.”
Alcance regional e descentralização
Com participação de todos os estados, o festival reforçou sua proposta de descentralização cultural. São Paulo liderou o número de inscrições (135 filmes), seguido por outros estados e pelo Distrito Federal, que registrou 41 produções. No DF, 15 das 35 Regiões Administrativas participaram; o Plano Piloto liderou com 19 curtas, seguido por Ceilândia e Recanto das Emas.

Além da exibição de filmes, o festival também serviu como laboratório de aprendizagem. Estudantes do curso Técnico em Produção de Áudio e Vídeo participaram ativamente da organização por meio da disciplina “Prática Profissional 1”, orientada pelo professor Allex Medrado.
Os alunos atuaram em diversas frentes: produção de vídeo-homenagem, itinerância do festival com o projeto Cine Pipoca no Rolê (FAC-UnB), cobertura audiovisual e fotográfica e direção de arte do evento — esta última coordenada pela professora Gaia Schüler.

Para Medrado, o festival, criado em 2019, se consolidou como espaço de resistência e celebração da cultura periférica. “A edição de 2024 reafirma esse compromisso ao exibir curtas que tensionam os modos de ver e ser da sociedade, promovendo trocas e fortalecendo o audiovisual feito por quem historicamente foi colocado à margem.”