Encontro do transporte público gera propostas para a COP30 em novembro no estado do Pará
Publicada em 27 de agosto de 2025
Estudo mostra que entre os diferentes modelos de transporte público o sistema sobre trilhos é mais viável
Um transporte público eficiente, de qualidade e sem emissão de poluição (Gases do Efeito Estufa), com foco no sistema sobre trilhos, é o caminho para solucionar a crise em que se encontra a mobilidade urbana no Distrito Federal e região – A frase resume os dois dias (21 e 22/08) do II Seminário Internacional Sobre Mobilidade Urbana, promovido pela Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) da CLDF em parceria com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e a União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais ((Unale).
O professor Augusto Mendonça Brasil, coordenador do HUB de Mobilidade da Finatec encerra o ciclo de palestra do seminário com o tema A Descarbonização: Como Planejar A Redução das Emissões de CO2. O professor com base em estudo dos alunos de Graduação da UnB mostrou através de slide diversas simulações com modelos do transporte público. “O estudo norteia a proposta que deve ser apresentada durante a COP30”, ressalta.

Entre outros pontos, o estudo apresentado pelo professor, revela que as emissões de carbono no DF continuam a crescer e os carros são ainda os responsáveis pelo aumento de CO2; ao contrário dos veículos elétricos sobre trilhos, que estão entre as melhores opções para o transporte público. “Temos metas que podemos alcançar e a gente já pode mostrar isso na COP30”, informa Augusto Brasil ao acrescentar que o transporte sobre trilhos tem condições de oferecer grande potencial de descarbonização para o DF.
O palestrante Francisco Paiva Avelino, do Ministério das Cidades, destaca a integração entre os ministérios para desenvolver de forma coordenada todos os programas do governo federal com vistas a descarbonização e melhoria da mobilidade urbana. Ele ressalta também a importância dos projetos atualmente em execução pelo governo federal e critica algumas políticas públicas adotados na área ambiental pelo governo anterior.
O representante do governo federal adianta algumas das propostas que o Brasil vai levar para a Conferência do Clima (COP30) em novembro no estado do Pará. Segundo ele, o País anfitrião vai mostrar aos visitantes estrangeiros o quanto o governo valoriza a política sustentável, adotando vários programas e criando leis com vistas a descarbonização da indústria nacional, além de incentivar a produção de energia limpa, dados que segundo o palestrante, tem como perspectiva atrair investimento estrangeiro.

Eletrificação e Descarbonização
Debates e palestras sobre Eletrificação e Descarbonização fecharam o último dia do encontro com especialistas internacionais, de Brasília e de alguns estados brasileiros. O professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, professor Tiago Farias, mediador do Painel Descarbonização, abriu os trabalhos. O português foi enfático ao afirmar: “A questão não é só substituir uma tecnologia que emite gases do efeito estufa por outra que não emite”, mas segundo ele, envolve outros fatores de forma mais complexa, como liderança forte, visão de futuro e planejamento estratégico.

“Não podemos deixar nosso planeta em piores condições do que já está”, comenta o professor ao reforçar a necessidade urgente de se resolver essa equação da mobilidade urbana que enfrenta hoje a população dos centros urbanos nas grandes cidades. Tiago Farias também argumenta que a descarbonização não será completa se for somente de forma tecnológica, segundo ele, a mudança no financiamento tarifário também é necessária.” Só há oito casos no mundo em que o sistema tarifário cobre realmente os custos operacionais do sistema de transporte”, lembra o português.
O problema do transporte público não é fácil e tende a se agravar com o passar dos tempos se não houver uma solução rápida. Mais de 80% da população brasileira vive em centros urbanos e a expectativa, reforça o professor, é que até 2050 dois terços da população mundial passem a viver em comunidades urbanas. “Resolver essa equação é o grande desafio do transporte público”, garante.
Conforme o professor, o setor de transporte é o único de toda sociedade que não consegue resolver a questão de emissão de gases do efeito estufa e o problema tem se agravado assustadoramente desde 1990 no setor. “É preciso garantir para que a próxima geração tenha um planeta em melhores condições”, pontua ao alertar: “Somos a geração bem preparada tecnologicamente e corremos sérios riscos de entregar as próximas gerações um planeta em piores condições”.
O palestrante Giancarlo Moreira Gama, especialista em transporte público e Diretor Executivo da Jevy Cidades, aborda a crise que vive o setor de mobilidade urbana e defende uma política de justiça urbana e tecnológica para o transporte público. “Nosso objetivo é desenvolver o setor de transporte com políticas públicas, confrontando com a crise e o abandono que hoje afetam a mobilidade urbana”, observa.
O palestrante garante que o sistema de transporte público está em colapso, é uma bomba relógio e a sociedade precisa discutir isso com os três setores federativos brasileiros (governo federal, estadual e municipal). “Quase 70% das cidades brasileiras não possuem transporte coletivo intramunicipal para se locomover, principalmente, as cidades com até cem mil habitantes”, garante. Giancarlo completa que isso tem como reflexo o aumento de acidentes no trânsito.
O especialista lembra que o aumento nas tarifas do transporte público em várias cidades brasileiras penaliza as pessoas mais pobres e coloca o setor em risco, e que provavelmente, no futuro, as cidades fiquem sem transporte público. “Vamos repensar essa estrutura de financiamento da política pública com o transporte urbano no Brasil. “Se não discutirmos a política tarifária no transporte público não avançaremos na descarbonização nem na mobilidade urbana” completa.
O palestrante teme que futuramente não se tenha veículos elétricos no transporte coletivo, fundamental para a descarbonização. “As pessoas estão deixando o transporte público, o setor de transporte não está conseguindo avançar”, explica. Segundo ele, é preciso trazer de volta as pessoas que estão optando pelo carro (modelo em falência). “A política tarifária do sistema de transporte público é fundamental para chegarmos ao processo de descarbonização”, afirma.
Thomas Caldellas, especialista em inovação para descarbonização da mobilidade urbana, do Ministério de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços, alerta que o mundo enfrenta hoje a necessidade de descarbonizar o sistema de transporte, mas não é fácil, porque segundo ele, cada região acaba tendo sua própria solução, que não é única, porque geralmente são várias as soluções tomadas de acordo com as regiões e territórios em que se encontram.

O Brasil apesar de ser o sétimo emissor de gás carbono (Gases do Efeito Estufa) no mundo, ele contribui apenas com 3% das emissões totais, valor bem pequeno se comparado a outros países (somente EUA, China e Índia emitem mais de 50%) e o Brasil por ter uma diversidade enorme de fontes renováveis, acaba que o setor de transporte responde por apenas 9% em emissões de carbono, a indústria brasileira 4% e o setor agropecuária com 74% de nossas emissões de CO2.
O palestrante também abordou o Programa Mover, do governo federal, iniciativa que também contribui para reduzir as emissões de carbono em veículos pesados. “O programa tem um papel fundamental para reduzir CO2 no transporte sobre trilhos, mas tem um caminho longo ainda a ser feito”, conclui.
O primeiro dia do seminário contou também com a participação de especialistas renomados na área de transporte, autoridades e palestrantes que enfocaram temas como Sistema Sobre Trilhos: Trens e Sistema Sobre Trilhos: Metrô. Entre os palestrantes destacam-se o Secretário do Entorno do DF, Cristian Viana; Antônio Maria Espósito Neto, do Ministério das Cidades; Ticiana Marques Vieira Ximenes, do Metrofor, com sua experiência no Estado do Ceará; Eduardo Barata do Metrô Mondego de Portugal; Ana Patrizia Lira, da ANPTrilhos, entre outros.
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