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Apicultura orgânica 4.0

Com apoio da Finatec, pesquisadores da UnB desenvolvem tecnologia que vai alavancar a produção do mel orgânico no DF e região e ainda ajudar a combater o perigoso risco de extinção das abelhas

Imagine ter, ao alcance das mãos, informações para decidir exatamente onde colocar as caixas de abelhas na propriedade para garantir a produção do mel orgânico, aumentar a renda do produtor e ainda preservar as abelhas. É nisso que pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) estão trabalhando. 

O projeto Apicultura Orgânica 4.0 (numa alusão à 4ª revolução industrial) está em fase final e é desenvolvido com apicultores do assentamento Chapadinha, na região do Lago Oeste, produtores da Fercal, em Sobradinho, e outro grupo na região de Anápolis, em Goiás. Ao todo são 45 produtores de mel. 

Coordenador do projeto, o professor Sanderson César Macedo Barbalho ressalta que os apicultores beneficiados terão a possibilidade de aumentar a renda porque o quilo do mel orgânico custa, em média, 50% a 100% a mais do que o tradicional. “Para ter a certificação de mel orgânico, não pode haver lavouras que usam agrotóxico, como as de soja, milho e algodão, num raio de 3km das caixas de abelha”, explica.

Para traçar o perímetro de segurança, os pesquisadores coletaram imagens com um drone que possui câmeras especiais para identificar qual é o local, dentro da propriedade, mais adequado para produzir o mel orgânico. “Isso porque as câmeras captam que tipo de vegetação e lavoura tem ao redor da propriedade. Processamos essas imagens e transferimos as informações para um aplicativo que pode ser acessado via celular”, conta. “Quando as pessoas perceberem que a abelha é rentável, elas vão tentar protegê-las. Hoje o que ocorre é um extermínio por conta dos venenos”.  

Segundo Sanderson, ainda há poucas informações sobre espécies do Cerrado, como aroeira, tamboril-do-cerrado, cipó-uva entre outras. E um dos desafios é, justamente, criar um banco de dados com a vegetação do bioma para enriquecer ainda mais as informações que serão disponibilizadas para os apicultores.

Certificação

Com esse dispositivo, caso o produtor de mel peça a certificação, quando o técnico chegar para avaliar, não precisa entrar em outras propriedades para se certificar que não há lavouras que usam agrotóxico no raio de 3km das colmeias. “Numa propriedade de 10 hectares o certificador teria que entrar em uma média de 10 propriedades vizinhas para avaliar se é ou não mel orgânico. Com o aplicativo, bastará ele colocar o drone do ar e saberá a localização das colmeias e o que tem em volta”, diz Sanderson.  

O Apicultura Orgânica 4.0 está sendo desenvolvido no Assentamento Chapadinha, no Lago Oeste, onde vivem 54 famílias e há 10 apicultores. Na região da Fercal são cinco apicultores envolvidos no projeto. E em Anápolis, há um grupo de 30.

Rota do Mel

Para o futuro, o Prof. Sanderson César espera expandir o uso do aplicativo para as regiões conhecidas como Rota do Mel no Pará, em Minas Gerais, na Bahia, Santa Catarina e São Paulo para aumentar a renda do apicultor por meio da certificação de mel orgânico

Ao todo, 16 pessoas trabalham no projeto que conta com um orçamento de R$ 1,3 milhão, recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional, por meio do Instituto Internacional de Cooperação Agrícola. “Os recursos e contratos são geridos pela Finatec e isso reduz bastante o trabalho burocrático. Com isso, conseguimos focar na pesquisa”, elogia Sanderson César.

Além das fronteiras

O Apicultura 4.0 tem parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), um organismo internacional que trabalha com agricultura e sustentabilidade e está presente em 34 países das Américas. O IICA trabalha no desenvolvimento de soluções para questões hemisféricas, regionais e territoriais, aportando conhecimento internacional articulada com expertise local. Uma vez desenvolvidas essas ferramentas, elas podem ser adaptadas para a realidade de outros países, como é o caso do produto do projeto Apicultura 4.0.

Gestora do projeto pelo IICA, Romélia Souza explica que os polinizadores são extremamente relevantes como indicadores naturais de sustentabilidade. O projeto apoiado pelo IICA traz inovação, tecnologia e contato facilitado dessas ferramentas diretamente com o produtor rural, que é o beneficiário direto desta ação. “Apoiar esse projeto é apoiar toda uma plataforma de cooperação em favor da sustentabilidade brasileira e, quem sabe, usar esse conhecimento para além das fronteiras nacionais. Eventualmente, países vizinhos, como o Paraguai, a Colômbia, o Uruguai e an Argentina podem se interessar pela solução desenvolvida pelo projeto”, cita Romélia.

Romélia Souza destaca que o IICA trabalha em conjunto com os ministérios da Agricultura, da Integração e Desenvolvimento Regional e do Meio Ambiente e Mudança do Clima na agenda de polinizadores, além de outros Organismos Internacionais, como a Cooperação Alemã.

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